2 de março de 2015

8 ideias erradas que se tem sobre a vida medieval

Muitos livros, seriados, filmes e jogos são inspirados na História Medieval, e é tentador pensar que eles representam aspectos reais da vida em tempos passados. Não é o caso. Muitas vezes, eles apenas reforçam mitos e equívocos.

Romances de fantasia certamente não precisam ser historicamente precisos, mas quando tantos são tão equivocados, as pessoas podem ficar com uma impressão errada de que sabem sobre o cotidiano dos homens e das mulheres medievais.

Conheça oito dos enganos mais comuns sobre essa época:

1) Os camponeses eram uma única classe de pessoas mais ou menos iguais entre si

É fácil pensar que as pessoas na Idade Média eram divididas apenas em grandes classes: reais, nobres, cavaleiros, clérigos e camponeses. Não é bem assim. Há vastas classes de pessoas que, hoje, podemos chamar de “camponeses”.

Ian Mortimer, autor do livro “The Time Traveler’s Guide to Medieval England”, aponta que na Inglaterra do século XIV existiam “vilões”, pessoas ligadas à terra de um determinado senhor. Vilões não eram considerados livres, e podiam ser vendidos ou “alugados” com a terra do senhor. Aliás, o povo livre em si também pertencia a uma vasta variedade de classes sociais e econômicas. Alguns podiam se tornar bem sucedidos o suficiente para alugar a mansão de um senhor, essencialmente agindo eles mesmos como senhores. Outros podiam deter grande parte do poder político, atendendo todos os oficiais locais. Podemos pensar nessas pessoas como “camponeses”, mas elas certamente não eram iguais entre si.

2) Pousadas eram casas públicas com grandes salões comuns e quartos individuais

Há poucas imagens tão firmemente enraizadas na fantasia pseudomedieval quanto a da taberna/pousada. Você supostamente podia ir a uma delas, desfrutar de alguns garrafões de cerveja na sala comum, ouvir todas as fofocas locais e depois ir até seu quarto – alugado e privado –, onde dormiria sozinho ou com um amante.

Essa imagem não é totalmente enganosa, mas a verdade é um pouco mais complicada. Na Inglaterra medieval, se você combinasse uma pousada com uma cervejaria, você provavelmente teria algo parecido com a fantasia acima – mas também precisaria pagar impostos escandalosos sobre o serviço. Havia estalagens onde era possível alugar uma cama (não um quarto), e que também possuíam salões comunais para refeições. Nelas, você provavelmente encontraria um único aposento com várias camas, suficientemente grandes para o sono de até três pessoas. Somente nas pousadas mais luxuosas seria possível encontrar quartos com colchões individuais.

3) A realeza tinha péssimas maneiras à mesa

Mesmo na Idade Média, os membros de estratos mais elevados da sociedade seguiam uma determinada etiqueta, e essas normas certamente envolviam boas maneiras à mesa. Na verdade, dependendo das circunstâncias e da influência envolvida, as regras eram tão exigentes que seu descumprimento poderia resultar em multas e punições físicas.

4) As pessoas desconfiavam de todas as formas de magia

Na maioria dos casos das histórias medievais, a magia é tratada com desconfiança. Mas nem todas as circunstâncias de magia na Idade Média eram tratadas como heresia.

No livro “Misconceptions About the Middle Ages”, Anita Obermeier explica que, durante o século X, a Igreja Católica não estava interessada em julgar bruxas por heresia; estava mais interessada em erradicar superstições heréticas sobre “criaturas demoníacas”. E, no século XIV, era possível consultar um “mago” ou uma “bruxa” para resolver pequenos problemas, como encontrar um objeto perdido ou conquistar a atenção da pessoa amada.

No geral, a Inglaterra medieval era extremamente tolerante com o exercício da magia, desde que não houvesse ofensas diretas à estrutura básica do Cristianismo. Contudo, o final do século XV sustentou a origem da Inquisição Espanhola, e aí sim as bruxas começaram a ser caçadas por toda a Europa.

As fogueiras inquisitórias não eram raras, mas também não eram corriqueiras. Obermeier explica que, ao longo do século XI, a feitiçaria foi tratada como um crime secular, mas a Igreja não costumava puni-la com o fogo. Essa punição tornou-se um pouco mais comum no século XIII, mas apenas para os hereges recorrentes.

5) As roupas eram sempre práticas e funcionais

Homens e mulheres medievais de várias classes sociais tinham profundo interesse na moda. Em alguns casos, em uma moda tão absurda quanto a que povoa as passarelas dos desfiles mais excêntricos da atualidade. Durante o século XIV, os homens ingleses vestiam peças bastante elaboradas e experimentais. Espartilhos e ligas eram comuns para o sexo masculino, já que a forma de seus quadris e pernas também evidenciava sua força. Alguns nobres usavam vestidos com mangas tão longas que era possível tropeçar nelas. Sapatos com bicos extraordinariamente longos, de até cinquenta centímetros, também eram populares.

É importante notar que a moda era hierárquica, passando da realeza à aristocracia em eventualmente, até o povo comum. Nas estações seguintes, tão logo um conjunto de roupas se difundia entre os nobres, uma versão menos cara e elaborada aparecia entre os homens e mulheres mais pobres. De fato, existiam leis em Londres que impediam as pessoas de se vestirem acima de suas classes, sob pena de confisco e prisão.

6) Servos eram indivíduos de classe baixa

Se você fosse um indivíduo de alto escalão, você provavelmente teria um servo de alto escalão. Um senhor podia enviar seu filho para que ele servisse a outro senhor – talvez na mansão do irmão de sua esposa, por exemplo. O filho não receberia nada, mas ainda assim seria tratado como parente de um lorde. O mordomo de um senhor podia ser ele mesmo um senhor. O status de alguém na sociedade não vinha apenas do fato de ser ou não um servo, mas também de sua condição familiar, de quem ele servia e de qual trabalho desempenhava.

Nas famílias inglesas do final do século XV, mesmo nas encabeçadas pelo sexo feminino, os servos eram quase predominantemente masculinos – e com algum grau de elevação social. Em seu livro, Ian Mortimer apresenta o Conde da casa de Devon, que tinha quase cento e cinquenta servos, e apenas três mulheres entre eles.

7) A Medicina era baseada em pura superstição

A cura medieval muitas vezes vinha dos deuses, boa parte do diagnóstico envolvia Astrologia e teoria humoral, a sangria era um método respeitado de tratamento e muitos dos curativos não eram apenas inúteis – eram francamente perigosos.

Ainda assim, alguns aspectos da Medicina medieval eram lógicos, mesmo para os padrões modernos. Envolver pacientes de varíola em pano de carmesim, o tratamento da gota com plantas do gênero Colchicum e o uso do óleo de camomila para dor de ouvido, por exemplo, eram tratamentos consideravelmente eficazes. E, enquanto a noção de um cirurgião-barbeiro é horrível para muitos de nós, alguns desses profissionais eram realmente talentosos. Muitos barbeiros já empregavam anestésicos em suas práticas, e eram particularmente reconhecidos pela eficácia no tratamento de abscessos e pelo desenvolvimento da Ortopedia.

8) Na cama, as mulheres eram meros instrumentos de prazer dos homens

É fato que a mulher não tinha exatamente um papel elevado na Idade Média, mas isso não significa que sua intimidade era completamente ignorada. Por exigência das mulheres, o estupro tornou-se um crime passivo de morte na Inglaterra do século XIV; Inúmeros textos medievais apresentam o sexo feminino como um gênero muito mais lascivo do que o masculino; A esposa era legalmente obrigada a jamais recusar os avanços sexuais de seu marido, mas a volta era rigidamente cobrada – dentro do casamento, a Igreja chegou a recomendar que o sexo fosse periódico, pois uma mulher sem prazer era uma mulher perigosa e/ou mais aberta a doenças psicológicas.

Fontes: 01 e 02.

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