Um antigo livro de feitiços, ou “Manual de Rituais de Poder”, como chamam
os pesquisadores Malcolm Choat e Iain Gardner, professores da Universidade
Macquarie e da Universidade de Sydney, acaba de ter sua tradução publicada. O
livro contém vinte páginas em folhas de pergaminho, e foi escrito em Copta, uma
das linguagens do Antigo Egito, provavelmente entre os séculos VII ou VIII, por
algum integrante da seita dos Setianistas, os adoradores de Seth.
Os Setianistas foram considerados heréticos e
estavam em franco declínio no século VII. O Códex, com sua mistura de encantamentos
e tradições cristãs e setianas, pode ser um documento transicional, redigido antes
que todas as invocações da seita fossem expurgadas dos textos religiosos. Seu conteúdo
começa com uma longa série de preparativos ritualísticos, que eventualmente
culminam em desenhos esquemáticos e palavras de poder. Estes esquemas são
seguidos por uma série de prescrições ou feitiços para curar possessões e vários
outros problemas mundanos, relativos ao amor e ao trabalho.
Em uma de suas fórmulas mágicas mais interessantes,
o livro sugere que seu usuário use duas unhas cortadas para amaldiçoar o futuro
sentimental de um inimigo, escondendo-as nas extremidades laterais da porta da
casa desse indivíduo em questão. Há alguns outros encantamentos mais
misteriosos e complexos, como a invocação de uma entidade nomeada “Baktiotha”, desconhecida pelos
pesquisadores, mas subtitulada como “O
Grande”, “O Confiável” e “Senhor das Serpentes” ao longo do Códex.
E quem eram os leitores deste manual, afinal? Pelo
linguajar, ele aparentemente era destinado a usuários masculinos, não
necessariamente vinculados ao sacerdócio ritualístico. Os pesquisadores,
contudo, não descartam a possibilidade de que muitas mulheres tenham lançado
mão dos feitiços ali sugeridos. Apesar do Códex ter sido decifrado, ainda
existem inúmeras lacunas e mistérios relacionados a ele, a começar pela própria
origem. A Universidade Macquarie o adquiriu no início da década de 80 de um
antiquário em Viena, mas sua procedência anterior é desconhecida. O estilo da
escrita sugere que ele veio do Alto Egito, provavelmente dos arredores da cidade
de Ashmunein/Hermopolis, mas não há confirmação documental para tanto.
Atualmente, o manual encontra-se no Museu de
Culturas Antigas na mesma Universidade, em Sydney. Uma cópia do livro de pode
ser adquirida por cerca de R$300,00, com imagens das páginas originais, sua
tradução e alguns fatos históricos de seu provável contexto original.
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