Um novo estudo sobre a indústria
militar medieval mostra que o governo real Inglês investiu pesadamente na
compra de centenas de milhares de setas de besta por anos, revelando o quão
importante era esta arma para os exércitos medievais da região.
No artigo, "Military Industrial Production in
Thirteenth-Century England: The Case of the Crossbow Bolt", David S.
Bachrach examina registros administrativos reais entre os reinados de Ricardo I
e Eduardo I. Esses registros revelaram grandes despesas relacionadas à produção
e encomenda de setas metálicas e hastes de madeira reforçada de fornecedores
particulares. Alguns dos primeiros documentos mostram que o Rei João gastou somas
significativas com a construção de oficinas para a confecção de munições e
armamentos, bem como para a compra de excedentes, quando necessário. Pelo menos
seis oficinas reais, especializadas em bestas, foram estabelecidas durante o
seu governo, e cerca de duzentas mil setas foram produzidas ou compradas.
No ano de 1224, o Rei Henrique
III sitiou o Castelo de Bedford, previamente ocupado por Falkes de Bréauté e
seus homens. O cerco durou oito semanas, e envolveu cerca de dois mil e
quinhentos soldados. A chancelaria de Henrique teria ordenando que os regentes
de Londres enviassem o maior número possível de setas para o campo de batalha.
"No meio daquele ano",
escreve Bachrach, "a Chancelaria
enviou o pedido para Londres, ordenando que seis ferreiros trabalhassem sem
parar, literalmente, concentrados na produção de setas e hastes reforçadas. Em
oito dias, Londres foi capaz de produzir mais de três mil delas”. Três
semanas mais tarde, no entanto, mais setas de bestas foram exigidas e
posteriormente enviadas. Northampton, Oxford e Londres – somadas – despacharam
mais de quinze mil.
Bachrach também é capaz de
fornecer alguns detalhes sobre os profissionais que operavam nas oficinas
reais, incluindo John Malemort, que começou a trabalhar para Henrique III em
1225. Malemort tornou-se supervisor de sua própria oficina em 1230, e serviu
como Mestre de ferraria até 1278. Ele e seus assistentes tinham condições de
produzir até cem setas de besta por dia.
Em relação ao reinado de Eduardo
I (1272-1307), Bachrach anotou inúmeras referências à fabricação das mesmas
setas. A produção atingiu seu clímax durante as campanhas galesas de 1282-4,
quando quase seiscentas mil peças foram enviadas para as tropas inglesas no
País de Gales. Bachrach complementa: “Os
documentos deixam claro que o governo real comprou mais de um milhão de setas
de besta para as campanhas galesas e escocesas. No entanto, esta pode ser
apenas uma pequena fração do número total de setas produzidas nas quatro
décadas do reinado.
"Os registros administrativos que temos à disposição, apesar
de numerosos, representam somente uma pequena porcentagem do volume esperado de
documentos que lidam com logísticas militares. No que concerne a Eduardo I, não
é absurdo imaginar que a quantidade de bestas e respectivas munições possa ser
contabilizada na casa dos muitos milhões”.
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