Quem já viu um mapa antigo
reparou, certamente, nas criaturas bizarras que marcam vários pontos dos
oceanos do mundo todo. Serpentes marinhas emblemáticas, sereias sedutoras e
outras criaturas míticas podem ser encontradas em mapas medievais e renascentistas
dos séculos X ao XVII. Por quê?
É o que analisou Chet Van Duzer
em seu novo livro, “Sea Monsters on
Medieval and Renaissance Maps”, algo como “Monstros marinhos em mapas medievais e renascentistas”, em tradução
livre. Segundo Van Duzer, é muito conhecido o uso de criaturas míticas em mapas
antigos, mas ninguém havia analisado sistematicamente o fenômeno. O pesquisador
convidado da Biblioteca John Carter Brown, de Providence, Rhode Island (EUA),
teve a ideia de estudá-las em 2009, enquanto examinava um manuscrito em latim
de “Geografia”, tratado feito pelo
matemático greco-romano e cientista Cláudio Ptolomeu.
O manuscrito produzido em
Florença entre 1455 e 1460 é o único entre 58 outros sobreviventes a ter
criaturas marinhas ilustradas: 476 delas, que variam de peixes a monstros. Van
Duzer afirma que os cartógrafos usavam essa arte para ilustrar regiões
inexploradas e misteriosas do planeta, e seus possíveis perigos para navegação.
Mais incrivelmente, porém, é o fato de que, apesar da sua aparência bizarra,
muitas destas criaturas eram baseadas em animais reais.
Animais reais x animais retratados
As criaturas parecem puramente
fantásticas, mas, na verdade, muitas vêm do que foram consideradas, na época,
fontes científicas. “Muitos cartógrafos
simplesmente copiaram esses monstros marinhos de enciclopédias ilustradas”,
explica Van Duzer. O cartógrafo sueco Olaus Magnus (1490-1557) foi um dos mais
copiados. Em outras ocasiões, nomeadamente um período no século XVI, os
cartógrafos tomaram alguma licença poética com os animais (criando híbridos
terrestres e aquáticos). Nesses casos, os desenhos eram meramente decorativos.
As ilustrações são famosas, mas
as descrições dessas criaturas têm sido muito pouco estudadas. Hoje, nós
geralmente pensamos em monstros como bestas míticas, no entanto, é importante
notar que baleias e morsas eram consideradas monstros nos tempos medievais e
renascentistas.
A origem dos mapas
Van Duzer procurou traçar a
origem dos monstros marinhos dos “Mappas
Mundi” europeus medievais, mapas náuticos e da “Geografia” de Ptolomeu. Mappa
Mundi não são os mapas mais precisos geograficamente, mas contêm um tesouro
de animais bizarros. Uma ilustração descreve um homem na barriga de um monstro,
provavelmente uma referência à história bíblica de Jonas e a baleia. Outro
mostra uma criatura com a cabeça de uma galinha e o corpo de um peixe. “Toda criatura terrestre tinha um equivalente
no mar”, conta Van Duzer, já que essa era a crença da época.
Estas criaturas monstruosas
sugeriam um mundo cheio de perigos à espreita nos oceanos distantes: polvos
gigantes que poderiam arrastar navios para o mar, sereias que podiam afogar
marinheiros e outros contratempos. Sendo que uma viagem de navio naquela época
demorava meses e o final dela era desconhecido, a sugestão não é das piores.
Baleias possuem um lugar de
destaque nos mapas medievais e renascentistas. Muitos desenhos fazem alusão a
uma antiga história sobre marinheiros confundindo uma baleia com uma ilha. Na
história, os marinheiros ancoram seu navio na baleia e acendem uma fogueira
para cozinhar alimentos. Quando a baleia sente o calor do fogo, mergulha,
levando o navio e os marinheiros junto com ela.
Retratos de baleias e outras
criaturas tornaram-se mais realistas a partir do início do século XVII. Mapas a
partir desta época mostram navios que exercem domínio sobre os animais do
oceano. À medida que o conhecimento náutico e zoológico avançou, os monstros
começaram a sumir dos mapas, até que desapareceram. “Mapas modernos, que não possuem esses animais fantásticos,
absolutamente perderam algo”, conclui Van Duzer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário