O "baixo calão" faz parte da vida cotidiana, e a maior parte das
pessoas faz uso de seus recursos em alguns momentos estratégicos da vida. Mas a
persistência de uma “boca suja”
também depende muito de quem (e com quem) você está falando. Este detalhe contemporâneo
também foi verdadeiro para os antigos romanos, que chegaram a aperfeiçoar a
arte de expressões menos ofensivas quando conversavam em público.
Nosso idioma, como a maior parte
das outras línguas do mundo, oferece versões menos ofensivas, até mesmo bem
humoradas, para expressões mais “pesadas”.
Estes tipos de substituições parecem ser mais aceitáveis entre pessoas
educadas. Através de uma análise sistemática de alguns discursos proferidos em
Latim, Peter Kruschwitz, chefe do Departamento de Clássicos da Universidade de
Reading, descobriu que essas estratégias de camuflagem linguística já existiam
na época romana. Em público, o romano usava a criatividade para não causar
polêmica.
Kruschwitz explica: “A noção de palavras que são 'apenas
palavras' certamente não se aplica a ofensas e palavrões. Xingamentos
ocasionais normalmente não pertencem à esfera pública e, na eventualidade de
seu uso, o impacto da obscenidade precisa ser amenizado por meio de estratégias
semânticas. Nós temos nossa própria maneira de lidar com estes cenários, e
minha pesquisa mostra que princípios semelhantes já estavam em uso há mais de
dois mil anos”.
"Os romanos empregavam uma série de palavras de sentido ambíguo para
escaparem de uma linguagem chula em público. Quando em Inglês alguém pode
querer dizer 'Judas Priest' ao invés de blasfemar pelo nome de 'Jesus Cristo',
um dramaturgo romano teria usado os inofensivos 'O Apella, O Zeuxis' (nomes de
dois famosos pintores gregos) para não blasfemar pelos nomes de 'Apolo e Zeus'.
Curiosamente, até mesmo a mais grosseira das peças romanas, repletas de abuso
verbais, efetivamente não recorriam a palavrões para falarem de órgãos sexuais,
atividades ilícitas e funções corporais”.
"O romano também usava termos onomatopeicos como 'butubatta' ou
'spattaro', próximos de nosso 'blá, blá, blá', para transmitir seu desprezo
pelo discurso de outra pessoa. Expressões dramatizadas de desprezo e espanto,
com entonações adequadas ao momento, também eram populares – entre elas o
'attatae', equivalente à nossa exclamação de 'droga'".
A pesquisa do professor
Kruschwitz está publicada no artigo “How
to Avoid Profanity in Latin: An Exploratory Study’, in: Materiali e
discussioni, Vol.68 (2012)”.
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