31 de março de 2014

Estudante traduz carta de soldado do terceiro século


Um soldado servindo em um exército estrangeiro, com saudade da mãe, da irmã e do irmão, escreve inúmeras cartas, mas não recebe respostas. “Eu não paro de pensar em vocês, mas vocês não pensam em mim. Eu faço minha parte escrevendo para vocês sempre e não deixo de ter vocês na minha mente, e no meu coração. Mas vocês nunca me escrevem contando sobre sua saúde, como estão indo”, lamenta o rapaz, para mais tarde afirmar: “Eu já mandei seis cartas”.

No resto do papel, ele conta como sente saudade de todos, como está sempre pensando neles, e que quando eles receberem a carta, ele provavelmente já terá obtido uma licença para visitar a família. Parece uma carta como qualquer outra, e poderia ter sido escrita mês passado por algum soldado no estrangeiro, só que foi encontrada em 1899 pela equipe de Grenfell e Hunt, dois egiptólogos famosos em sua época, na cidade egípcia de Tebtunis.

Ela foi catalogada e arquivada, mas como estava em péssimo estado, não foi decifrada até 2011, quando o aluno de graduação Grant Adamson, do curso de Estudos Religiosos da Universidade Rice (EUA), começou a decifrar o antigo papiro. “Polion era alfabetizado, o que era mais raro do que hoje, mas sua caligrafia, ortografia e gramática grega é pobre”, conta Adamson. “Ele provavelmente falava várias línguas, e se comunicava em egípcio ou grego em casa, e depois em latim quando no exército em Pannonia”.

A partir do conteúdo da carta, sabemos que foi escrita pelo soldado Aurelius Polion, que provavelmente estava posicionado na província romana da Panônia Inferior, em Aquincum (atual Budapeste) e, como foi encontrada no Egito, provavelmente chegou ao seu destinatário.

O nome do soldado, Aurelios, sugere que ele nasceu no ano 212, quando a cidadania romana foi concedida a muitas pessoas. Outra dica é que ele se refere a um “comandante consular”, o que sugere uma data após o ano 214, quando a província da Panônia inferior passou a ser governada por um cônsul.

No vídeo abaixo (em Inglês), feito pela Universidade Rice, dá para ter uma ideia do trabalho que foi decifrar a carta que, além de ter sido escrita por um soldado que não era exatamente um literato, também está em condições péssimas, com muitos trechos faltando. Mesmo depois de ter traduzido um bom tanto do texto, ficaram certas porções cujo conteúdo é incerto e impossível de reconstruir.


Fontes: 01 e 02.

Um comentário:

  1. Lindo trabalho. Apesar das limitações ele é de grande contribuição para a humanidade. É bom saber que afeto e relações familiares já tinham seu peso naquela época.

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